Pastoreando o Coração da Criança

I. POR QUE ORIENTAR AS SUAS CRIANÇAS?

Palestra Proferida pelo Dr. Tedd Tripp em Out/94 na X Conferência da Editora Fiel



Gn. 18:19. "Porque Eu o escolhi para que ordene a seus filhos e a sua casa depois dele, a fim de que guardem o caminho do Senhor, e pratiquem a justiça e o juízo; para que o Senhor faça vir sobre Abraão o que tem falado a seu respeito."

Esta passagem chama os pais para dirigirem seu filhos. Eu sei que a nossa cultura tem se afastado desta tarefa, e que o nosso país, EUA, exporta tanto coisas boas como ruins, e por isso eu estou certo que você também tem sido tentado a se afastar desta tarefa. A minha oração é que nestes dias nós sejamos colocados face a face com a tarefa de dirigir nossas crianças, e que Deus possa corrigir nossas falhas e também nos levar a obediência.

A porção deste verso que eu quero olhar neste momento é a seguinte: "Para que ordene a seus filhos e a sua casa". Esta passagem nos chama a ordenar a nossa casa. Deixe-me colocar aqui , aquilo que já é óbvio. Este chamado para que nós dirijamos as nossas crianças, implica que elas precisam de direção. As crianças não tem um conhecimento maduro, não conhecem a si mesmas, não possuem experiência da vida, elas pedem direção. E a palavra aqui é que nós devemos por ordem, é colocar as coisas no lugar certo. Nós precisamos dirigir nossas crianças, o que descreve um relacionamento de autoridade. Nós somos pessoas chamadas para dirigir nossas famílias. Deus tem nos dado autoridade para assim agir. No meu país é difícil cumprir este mandamento, pois nós fazemos parte de uma cultura que não gosta de autoridade. Nós não gostamos de estar debaixo de autoridade e também não gostamos de exercer autoridade.

Razões Para Orientá-las

Quais são algumas razões pelas quais as crianças precisam se submeter a nossa autoridade? Por que as crianças precisam de alguém que lhes diga o que é bom para elas? Quais são as necessidades, de uma criança, que pedem direção? Como que as crianças se beneficiam recebendo direção? Essas são as perguntas que queremos responder através da Palavra de Deus.

A primeira razão é que ouvir os pais, é o meio pelo qual o filho ou a filha adquire o entendimento e o temor do Senhor. Há alguma coisa em ouvir e responder aquilo que uma pessoa sábia diz e isto ensina a criança a aprender o temor do Senhor. Em Pv.2:1-5 é apresentado uma resposta sábia à correção e à direção, pois as palavras do pai tem sido aceitas sendo postas no depósito e o coração se aplicou ao entendimento, e, o filho, tem recebido entendimento e discernimento, pois é através de ouvir o pai que a criança encontra o conhecimento de Deus. Por isso nós precisamos ser dedicados no instruir nossas crianças. Nós não devemos permitir que as nossas crianças não recebam estes ensinamentos, pois a criança que não ouve a instrução de seu pai não vai aprender o temor do Senhor e, sem o temor do Senhor, ela não vai encontrar o conhecimento de Deus. É conhecendo o temor de Deus que há a possibilidade de se conhecer a Deus. Então uma das razões porque as crianças precisam da direção dos pais é que assim elas aprenderão o temor do Senhor. Nesta passagem você encontra muitas bênçãos que se seguirão à obediência, e estas bênçãos não virão sobre a criança que não ouve a instrução dos pais.

A segunda razão pela qual as crianças devem receber a direção dos pais é que este é o meio pelo qual a filha e o filho crescerão em sabedoria e ganharão entendimento (Pv.4:1; Pv.13:1; Pv.19:20; Pv.23:22).

A terceira razão é que, recebendo a direção dos pais, a criança terá condição de conhecer a atitude de ser discreto e evitará problemas (Pv.5:1-2). Neste texto são mencionados muitos avisos e advertências com relação a perigos que serão evitados através do ouvir a instrução dos pais (Pv. 5:7). Em Pv. 7:13 menciona os sentimentos de tristeza do homem que não deu ouvidos aos pais. Como é que a criança pode atravessar o desafio da fornicação, da atração e do prazer sexual? Como é que se pode olhar para estes perigos com um julgamento maduro? Pois o nossos jovens não têm se livrado destes perigos e os jovens estão agindo de maneira que desonram a Deus no seu comportamento. As nossas crianças precisam saber que o pecado do sexo haverá de trazer resultados terríveis, e este texto nos diz que isto é aprendido pelo ouvir a instrução dos pais. Pais vocês precisam instruir as suas crianças, ensinem as suas crianças o temor do Senhor, dêem a elas direção, ajude-as a aprender a ouvi-lo, e você tenha discernimento para ver se elas estão ouvindo, encontre um jeito de envolvê-las na conversa como Salomão em Pv. 7:24-27. Como é que o jovem pode alcançar esta sabedoria? ele a ganha por recebê-la através da instrução dos pais.

A quarta razão é que receber a direção dos pais é o meio pelo qual os filhos podem desfrutar das bênçãos prometidas. A criança que receber tal instrução, terá poucas lutas ou dificuldades na vida (Pv.1:8-9). Pois a instrução dos pais será como uma grinalda sobre a cabeça e como um colar, e a criança que recebe esta instrução será grandemente abençoada. As palavras dos pais são vida para a criança, trazem saúde para o corpo todo (Pv.4:20- 22). "Aqueles que me encontram, encontram o favor do Senhor e encontram vida", e a criança que recebe instrução dos pais, de todos os lados recebe bênçãos para sua vida (Pv.8:32-36).

A quinta razão pela qual as crianças devem receber instrução dos pais é que recebê-la é o meio pelo qual o filho ou filha gozará a bênção de uma vida longa. Eles haverão de prolongar as suas vidas e trazer a prosperidade (Pv.3:1-2 e 4:10). Em Pv.7:2 é dito: "observe o meu mandamento e vive." A promessa de uma vida longa em Efésios 6:1-3 tem a sua raiz no Velho Testamento. A bênção da vida longa é uma das coisas que Deus coloca sobre a criança que recebe a instrução dos pais. As crianças precisam da orientação dos pais. Elas não entendem o quanto elas necessitam disso, pois nós vivemos em uma época em que não se faz isso com freqüência. A nossa cultura diz que a criança tem o direito de escolha em tudo e, temos assim, entregado a elas a responsabilidade da decisão. Mas elas não estão preparadas para tomar as decisões sábias e acertadas, e a evidência desta falha está em todo o mundo. Nós não podemos tratá-las como se elas tivessem maturidade para um bom julgamento, nem como se estivessem equipadas para tomarem decisões sábias. Eu não estou sugerindo que devamos ser pais duros e ruins, nem que devamos ser super exigentes e nada bondosos, mas nós precisamos prover direção para nossas crianças. O que eu quero olhar é como nós podemos dar estas instruções às crianças? Como podemos falar coisas profundas às suas vidas? Como podemos passar além do comportamento para irmos então até os seus corações? Nós precisamos aprender como dar a direção para que elas possam aprendê-las.

Falhas Comumente Cometidas

Há muitas evidências de nossas falhas em fazer e em não fazer isto. E há três falhas que estão presentes em nossas vidas. Vamos apresentar três exemplos de uma auto-satisfação indevida, que nossas crianças têm experimentado.

A primeira, é permitirmos que as nossas crianças desenvolvam hábitos de uma vida vazia, sem ocupação. As crianças tem recebido de nós, o poder de decisão sobre o que vão fazer com muito do seu tempo, e nós as dispensamos das responsabilidades das tarefas da casa, deixando que elas sentem e desfrutem das bênçãos da vida sem que elas trabalhem por aquilo. Como resultado disso nós vemos crianças que, mais tarde, não verão o trabalho como uma bênção para suas vidas.

A segunda é nós permitirmos, às nossas crianças, hábitos de extravagâncias. Esta se evidencia facilmente nos detalhes particulares das suas roupas, e exigências quanto as suas atividades e os seus prazeres.

A terceira evidência, é nós permitirmos que as nossas crianças tenham o hábito de manifestarem as suas explosões emocionais e de ira. Nós precisamos estar dando direção bíblica para elas nessas áreas.

Responsabilidade Paterna

Se nós vamos treiná-las, nós precisamos de alvos muito claros em nossa tarefa. Nós não podemos realizar alguma coisa se não sabemos o queremos realizar. E é uma obrigação específica para os pais. Em Gn.19 diz: "Eu o escolhi (Abraão)". Em Ef.6:4 nos diz: "Pais, não provoqueis..." e esta tarefa então, é primariamente dos pais (homens). Por isso os pais é que são chamados para esta tarefa. Certamente você se utilizará dos talentos de sua esposa, mas saiba que a responsabilidade é sua. Cabe então ao pai verificar se esta tarefa está sendo realizada, e que está sendo feita com qualidade. Não estou sugerindo que as nossas esposas não tenham capacidade para realizá-las bem, mas sim que compete a nós homens, a responsabilidade de que seja feito e com perfeição.

Alvos Sugeridos

Deixe-me sugerir dez alvos amplos nesta área. Coisas que devemos estar tentando realizar no nosso treinamento com as crianças.

O primeiro é um ensino geral no conhecimento da Bíblia. Precisamos treiná-las a ter um conhecimento geral das Escrituras, tal como, saber os livros da Bíblia na ordem em que eles se encontram. Ser capazes de encontrar os textos principais das Escrituras, como o Salmo do Bom Pastor, o relato da criação e do dilúvio, a chamada de Abraão e de José, os dez mandamentos, as bênçãos e as maldições da aliança, a passagem de Isaías sobre o Servo sofredor, algumas profecias do Velho Testamento sobre o Senhor Jesus Cristo, onde encontrar as bem-aventuranças, onde se encontra o relato sobre a igreja primitiva, onde está o relato de Jesus falando com Nicodemos, ou aonde encontrar o fruto do Espírito, e o capítulo do amor, e ainda as qualificações para os oficiais da Igreja, e ainda passagens que descrevem o corpo de Cristo. Isto pode ser parte do culto familiar. Eu uma vez fiquei na casa de um pastor onde as crianças acompanhavam o culto com cadernos de anotações, e a cada noite elas estavam acrescentando verdades aos seus cadernos e as suas mentes.

Em segundo lugar, como alvo, nós deveríamos ensinar o Catecismo as nossas crianças. Ensiná-las as doutrinas bíblicas através de perguntas e respostas. É interessante notar que Dt. 6 estabelece que o ensino do pai para o filho deve ser feito através da pergunta e da resposta.

Em terceiro lugar, devemos ensiná-las a lidar com a vida de forma bíblica. Precisamos ensiná-las a se portar corretamente diante das ofensas e como responder às dificuldades da vida com uma perspectiva bíblica. Quando seu filho chega em casa chorando porque alguém o machucou, você tem a oportunidade de, nessa hora, instruir a sua criança a não pecar nessas circunstâncias. É muito mais necessário a criança aprender a lidar com as ofensas sofridas do que o pai ir resolver essas questões. Precisamos ensiná-las passagens como Rm. 12 onde elas aprenderão como retornar o bem pelo mal sofrido. Também Lc.6 que nos diz para abençoarmos aqueles que nos amaldiçoam.

Em quarto lugar, precisamos estar preocupados em treinar o caráter de nossas crianças. O caráter delas precisa ser dirigido para dentro da linha do Senhor. Precisamos ensiná-las a temer ao Senhor, a serem humildes, a possuírem integridade e diligência, gratidão e lealdade, disciplina e sabedoria, discernimento e atenção, pureza e mansidão. Nós como pais, precisamos ensiná-las a terem e a refletir estas qualidades. Essas coisas não fazem parte da nossa cultura e por isso nós precisamos ensiná-las.

Em quinto lugar, nós precisamos ensiná-las um desenvolvimento social geral. Em Lc.2:52 nos diz que Jesus cresceu em sabedoria e graça diante de Deus. Ele deve ter se conduzido de tal maneira que as pessoas da sua cultura O respeitaram. Por isso nossas crianças precisam aprender a se comportar e lidar de forma respeitável nos mais diversos tipos de relacionamentos. Precisamos ensiná-las em todas as questões e tentações que dizem respeito a amizades. Há algumas tentações que tem a ver com as autoridades, outras com os professores, com os demais membros da família, e também com toda a sociedade. E elas precisam aprender a se comportar convenientemente em cada caso.

Em sexto lugar, nós precisamos estar preocupados em treiná-las nas questões acadêmicas. Como pais, precisamos estar envolvidos nas questões de educação dos nossos filhos, de forma que eles estejam aprendendo a olhar o mundo sob o prisma de Deus. Há uma passagem muito interessante em I Rs.4:29-34 que nos diz que Salomão era mais sábio que todos de sua época, possuindo sabedoria sob o prisma divino em todas as questões. Assim também, devemos nós ensinar as nossas crianças a aprender todas as questões sob este prisma.

Em sétimo lugar, nós temos de ensiná-las a ter uma visão bíblica sobre possessões. Elas precisam ver nossas posses como dádivas de Deus e como ferramentas. Precisam ver as pessoas como sendo mais importantes do que aquilo que possuímos. Em I Tm.5 diz que nós não devemos confiar nas riquezas e que devemos ser ricos em boas ações.

Em oitavo lugar, temos de ensiná-las o valor do tempo. Ef. 5 nos chama para remir o tempo porque os dias são maus. E isso não é apenas para os adultos, mas também é para as crianças. Daí termos de ensiná-las a serem responsáveis pelo seu tempo. Eles precisam de tempo para brincar, mas precisam entender que a vida é curta, e que há oportunidades que exigem o uso sábio do tempo.

Em nono lugar, nós precisamos ensiná-las a desenvolver projetos que estejam relacionados com o interesse delas. Precisamos ajudá-las a encontrar bons livros para serem lidos, a fazer boas coisas com o seu tempo. Precisamos ensiná-las a ter resistência e perseverança. Nós podemos fazer muito mais do que aquilo que pensamos que podemos. Podemos trabalhar mais duro do que aquilo que nós percebemos, e nós precisamos ensinar as nossas crianças a perseverar e continuar mesmo quando elas perdem o interesse na tarefa, principalmente quando se tratar de tarefas longas e que precisam muito de nós.

Em décimo lugar, elas precisam aprender a controlar as suas emoções. Nós precisamos ensiná-las a serem pessoas que vivam baseadas nas verdades bíblicas e não nas suas emoções e no seus sentimentos, a encontrarem as suas verdades na Palavra de Deus. Elas precisam aprender a entender os seus sentimentos, mas a serem guiadas pelos caminhos bíblicos. Nós precisamos ensiná-las a viver de acordo com aquilo que é justo e reto.

Nossa Suficiência

Nós temos uma grande missão de treinamento. Será que você se cansou com esta lista apresentada? É uma grande tarefa que Deus tem nos dado. Nós temos um grande exército para treinar para a batalha. O inimigo está a nossa volta. Nós precisamos, então, treinar as nossas crianças para que elas tenham uma vida útil ao Reino de Deus.

Talvez você se pergunte: aonde encontrarei forças para executar esta tarefa? Esta tarefa é muito grande e eu nunca vou conseguir fazer isto que foi apresentado. Mas para encerrar, leia a sua Bíblia em Ef.3 e lembre-se que o livro de Efésios tem o seguinte esboço: Os três primeiros capítulos o Ap. Paulo apresenta a glória do evangelho. Nós aprendemos ali sobre a grande salvação de Deus e sobre o amor de Deus que nos elegeu. Nós aprendemos sobre a redenção que há em Cristo e também sobre o poder que está trabalhando em nós, e como Deus nos levantou dos mortos. Paulo fala sobre a salvação pela graça mediante a fé. Então a glória da salvação está posta nestes três primeiros capítulos. Nos capítulos 4 a 6, Paulo focaliza as três maiores áreas da vida. No cap. 4 ele fala da Igreja, no 5 sobre marido e mulher, e no cap. 6 sobre as crianças, famílias e trabalho. Então as três áreas focalizadas são a Igreja, a família e o trabalho. E na transição do capítulo 3 para o 4 nós temos esta oração maravilhosa do Apóstolo.

Leia Ef. 3:14-21, e você verá que Deus tem nos dado, na Sua graça gloriosa, o poder de que necessitamos. Ele tem trabalhado conosco através do Seu poder em nosso ser interior. Jesus Cristo habita em nossos corações pela fé. Nós sabemos sobre este amor de Deus que está acima de todo entendimento, e Ele pode fazer muito mais abundantemente além daquilo que pedimos ou pensamos. O poder de Deus está agindo em cada um de nós como filhos de Deus. O Deus da glória tem levado o Seu Filho a habitar em nossos corações. Ele está operando assim para a Sua própria glória, glória da Sua igreja. E toda a graça de que nós precisamos para cumprir esta tarefa de pais, nós encontramos em Jesus Cristo.

Deus tem nos dado uma grande tarefa e aquele que está em nós é maior do que esta tarefa. E Ele é capaz de nos dar a graça que precisamos para servi-lo, então Ele nos dá esta graça para assim fazer. E a nossa esperança de poder fazer aquilo que Deus tem nos chamado para fazer está baseada na pessoa de Jesus Cristo. Que Deus nos dê graça para que possamos dar a nós mesmos a determinação, e aplicarmos aquilo que Deus tem nos chamado para fazer. Amém!


II. MUDANDO AS ATITUDES DO CORAÇÃO.

2ª Palestra proferida pelo Dr. Tedd Tripp, no X Encontro da Editora Fiel


Gn. 18:19. "Porque Eu o escolhi para que ordene a seus filhos e a sua casa depois dele, a fim de que guardem o caminho do Senhor, e pratiquem a justiça e o juízo; para que o Senhor faça vir sobre Abraão o que tem falado a seu respeito."

É um prazer para mim compartilhar com vocês sobre coisas que são preciosas ao meu coração. Nos últimos anos, eu tenho gasto muito tempo tentando entender as crianças e como pastoreá-las. E algumas coisas que vamos ver nestes dias irão ajudar-nos a pastoreá-las. Que o Senhor nos ajude e nos dê entendimento a medida que vamos estudar a Sua Palavra, e a ver as implicações dela. Que pela consideração da Sua Palavra o Senhor nos dê a orientação necessária para aprendermos como pastorear as nossas crianças. Pois nós queremos que o nosso ensino a elas, as leve a presença do Senhor. Queremos aprender a mostra-las a depravação dos seus corações. Queremos apontá-las o caminho a Cristo. Queremos pedir e interceder por elas, para que cheguem a fé e ao conhecimento de Cristo. Portanto, pedimos a Ti, Senhor, que ilumines as nossas mentes e corações para que possamos cumprir essa tarefa que Tu tens nos dado, para a Tua própria glória.

Eu creio que nós, como pais, temos experimentado uma grande variedade de frustrações com as nossas crianças. Quantas vezes nós nos sentimos insuficientes para essa tarefa? e quantas vezes ficamos desencorajados para cumprir com o que nos compete? olhamos para as nossas crianças e ficamos pensando o que vai acontecer com elas. Nós as vemos crescendo e vemos coisas erradas nelas. E vemos que os anos estão passando rapidamente. Então ficamos pensando como poderemos fazer o que Deus tem nos chamado para fazer.

Entendendo o Problema Através da Bíblia.

Muitas vezes vemos as necessidades delas e não sabemos como responder às suas necessidades. E quantas vezes nós respondemos mas não ficamos satisfeitos com a respostas que damos. Também, com freqüência, evitamos assuntos que precisam ser abordados. Nós estamos preocupados, nós vemos certos modelos de comportamento e respostas e nós não sabemos de onde tudo isso vem. Nós queremos ajudá-las, mas não estamos certos de como fazê-lo. E eu tenho descoberto que muitos pais estão frustrados com a sua tarefa. Quero então, chamar a atenção para alguns textos que já temos olhado. Nós precisamos entender o comportamento das crianças com os olhos das Escrituras. Qual é a visão bíblica do comportamento. Se nós vamos entender as nossa crianças através das Escrituras, precisamos saber então, o que as Escrituras dizem a respeito do comportamento delas. O que as Escrituras dizem sobre o porquê as crianças fazem o que fazem. Nós precisamos entender o que é que causa tal comportamento.

A Origem de Todo Comportamento Humano: O Coração

Leia Lc.6:43-44 e você verá que, neste texto, Deus descreve a origem do comportamento humano. A nossa fala e o nosso coração refletem aquilo que somos. Pode-se dizer que o nosso coração determina a nossa fala e a nossa ação. As coisas que as nossas crianças falam e fazem, vem do coração. Nós precisamos sempre lembrar que Marcos também ensina isso em Mc.7:20-23. Você pode verificar que algumas das coisas relacionadas neste texto, também se encontram em sua criança. E assim as Escrituras estão nos mostrando o que se encontra por baixo do comportamento humano. Então, olhando para o comportamento, podemos seguir a linha que nos levará ao coração. A fonte de onde nasce todo comportamento é o coração. E se nós queremos entender o comportamento de nossos filhos, nós teremos de seguir até a fonte, que é o coração deles.

Se isso é verdade, então são as atitudes do coração que estão refletidas no comportamento. O comportamento pecaminoso começa na verdade no coração, e aquelas atitudes do coração se externam. Isso também é verdadeiro quanto ao comportamento correto, comportamento espiritual. Ali também o comportamento é um reflexo da atitude do coração.

Nosso Erro: Abordar Diretamente o Comportamento

Olhando em nossas famílias, nós observamos que isso é verdadeiro. Você tem duas crianças e um brinquedo. O que acontece? os dois certamente estarão disputando o mesmo brinquedo. E olhando para o comportamento, verificamos um comportamento egoísta. Como pais cristãos nós não queremos que nossas crianças tenham esse tipo de comportamento e nós queremos que esse comportamento seja mudado, então, que fazemos? Muitas pessoas fazem o seguinte: ‘Quem pegou o brinquedo primeiro?’ e assim, esta criança não vai observar o ponto correto, porque na verdade você está diante de duas crianças egoístas. A questão de quem pegou por primeiro é apenas uma questão de justiça, mas isso não vai lidar com o verdadeiro problema, o egoísmo, pois elas amam a si mesmas. Então as duas crianças não tem disposição em compartilhar uma com a outra. Cada uma prefere a si mesma, e as duas estão determinadas a ter o brinquedo da mesma forma.

Outra forma de abordar o problema é através do apelo emocional. E dizemos algo assim: ‘eu fico muito triste de vocês agirem dessa forma. Vocês deixam o seu pai e a sua mãe tristes por agirem assim. E o papai vai sair para o trabalho triste por isso, mas eu ficaria tão contente de voltar para casa e encontrar vocês agindo de forma diferente’.

Há também a forma de ameaças. ‘Se vocês vão brigar por este brinquedo eu vou tomá-lo de vocês e dá-lo para outra criança, eu vou tirar tudo de vocês’. Ao ainda: ‘vocês não querem ser pessoas boas?...’ ou ainda ‘o que é que Jesus está sentido ao ver vocês agindo assim?’

Eu estou certo de que nenhuma dessas abordagens vai resolver o problema. Todas elas são tentativas de mudar o comportamento. É verdade que o comportamento precisa ser mudado, e é óbvio que temos de dizer para elas que precisam compartilhar as suas coisas, mas o assunto mais profundo aqui não é lidar com o comportamento dessas crianças.

Eu vou lhes contar uma história que aconteceu comigo enquanto utilizava a forma de ‘quem pegou o brinquedo por primeiro?’. Em uma manhã, quando acordamos, não havia um brinquedo sequer na caixa que se utilizava para guardá-los. Meu filho mais velho tinha acordado mais cedo e tinha então se apossado de todos os brinquedos. Quando ele queria brincar com certo brinquedo ele então ia apanhá-lo no local aonde estavam escondidos. Ele tinha este direito, pois os tinha pego por primeiro. Veja o problema que eu tinha criado ali.

A Mudança tem de ser do Coração

Pense o seguinte, se nós formos focalizar apenas o comportamento, nós vamos ficar perdidos em algum momento, e nunca conseguiremos levar as nossas crianças até a Cruz de Cristo. Você não vai conseguir levá-las até a cruz com esses tipos de atitudes descritos anteriormente. Pense no seguinte: vamos supor que venhamos a mudar o comportamento sem mudar o coração. Então as atitudes do coração não estão mudadas, mas de alguma forma eu conseguiu manipular a sua criança para que ela não seja egoísta com os seus brinquedos. Será que é isso que nós queremos para elas? a palavra bíblica para isso é hipocrisia, moralismo ou legalismo. Isso não é mudança bíblica.

Sabe o que mais acontece quando se tenta mudar apenas o comportamento? a mudança não será duradoura. Nós já experimentamos isso algumas vezes, como quando as crianças estão no quarto brigando e você entra no quarto e faz com que elas parem de brigar. Quando você se retira do quarto elas logo reiniciam a briga novamente. Qual é o problema? o coração não foi abordado. Esse comportamento egoísta tem sua origem no coração e está ligado ao fato de elas amarem a si mesmas em primeiro lugar. O problema é muito mais profundo, pois está ligado a um coração que está longe de Deus. É um coração que diz que encontrará a sua alegria agradando a si mesmo. E o que o vai agradar mais, é manter o brinquedo consigo ao invés de com seu irmão. Note que o problema da luta ou da porfia tem sua origem no coração. O que nós queremos ver é um coração mudado. Nós queremos ver um coração que mudou do amor por si mesmo para o amor pelo próximo e pelo Senhor. Nós queremos ver nossas crianças como imitadoras de Cristo como Fp.2 diz. Queremos vê-las como o Ap. Paulo via a Timóteo. Queremos vê-las motivadas não pelo auto-interesse, mas pelo interesse pelos outros.

Portanto, um comportamento mudado que dura e permanece, começa pela mudança do coração. Lembre-se que do que o coração está cheio é o que a boca fala. Enquanto focalizarmos apenas o comportamento, nós cairemos em todo tipo de problemas no educar as nossas crianças. Vamos acabar nos tornando em pessoas que vamos viver nos queixando delas. Ou vamos acabar gritando com elas, ou vamos nos enganar dizendo a nós mesmos que elas de alguma forma irão superar isso no futuro. Ou o que é pior, nós daremos a elas alguns parâmetros, que dispensarão o conhecimento da graça de Deus.

Segundo as Escrituras a Mudança Tem de Ser Interna

As Escrituras nos dizem que a lei de Deus se resume em amar a Deus e amar ao próximo, mas se nós não mexermos com o coração de nossas crianças, nós podemos acabar por substituir esta lei para nossas crianças, estabelecendo um outro parâmetro do qual elas sejam capazes de cumprir. Por exemplo, se duas crianças estão brigando pelo mesmo brinquedo e você diz então que cada uma vai brincar com este brinquedo por dez minutos. Você então estabeleceu um padrão que elas podem guardar sem conhecer a graça de Deus. E quando nós reduzimos o comportamento das nossas crianças a esse tipo de lei, estamos afastando-as de Cristo e da cruz. Não é preciso graça para esperar por dez minutos por um brinquedo, mas deixar que o meu próximo brinque com o meu brinquedo, vai exigir de mim graça para amá-lo em primeiro lugar.

Mudanças que vão permanecer nunca acontecerão através da mudança apenas do comportamento. Mudanças que permanecem acontecem quando não nos limitamos as mudanças do comportamento, mas vamos até a atitude do coração, e então vamos olhar a atitude do coração que está por detrás da atitude do comportamento.

Vamos então, falar as nossas crianças da necessidade delas de arrependimento e fé em Cristo. É Cristo quem pode trazer mudanças permanentes no coração. Arrependimento e fé em Cristo é que vão mudar um coração que está cheio de amor próprio, por um amor pelo Senhor e pelo próximo, e aí então, produzirá um comportamento reto. Eu não estou falando sobre o evento que se chama Salvação, mas em ensinar as nossas crianças, seguidamente, que o problema está no coração. Assim a questão é o que fazer para mudar o coração e não apenas o comportamento. Como é que eu posso ir além das camadas do comportamento e chegar o próprio coração? Como dizer as crianças que o problema delas não está em ter um único brinquedo mas sim nos seus corações? Como falar com elas sobre isso de forma que elas apreendam? Como, então, pedir a elas que se arrependam e confiem em Cristo? Como mostrá-las que Cristo veio para efetuar a mudança do nosso coração?

Então quando eu vou abordá-las, eu devo ir da seguinte forma: Mudança de comportamento não é o único problema aqui. É certo que eu devo mudar o comportamento, mas é preciso entender que a tarefa é maior do que isso. Eu quero que elas entendam o seu coração, ajudando-as a entender que é o coração delas que tem se desviado da atitude correta. E a minha intenção é adverti-la de forma que exponha a questão do coração. Não estou falando de esmagá-las com todo tipo de acusação, mas de falar-lhes de forma amorosa e gentil do problema exato, e da mudança que o evangelho traz que haverá de abranger todo o ser. O evangelho é o poder de Deus para mudar as pessoas de dentro para fora..

Eu não estou falando sobre o novo nascimento, mas sim sobre ensiná-las que o seu problema é no coração. Eu estou falando sobre usar os problemas do dia a dia como um trampolim para apresentá-las o coração mau.

Alguns Exemplos Práticos

Como exemplo, gostaria de contar-lhes duas histórias. Esta aconteceu na escola que pertence a nossa igreja. Um dia estavam dois jovens brigando no parque, e a professora os trouxe para falar comigo. Eu convidei um dos garotos para entrar na minha sala. Quando ele entrou, eu comecei a conversar com ele sobre o que havia acontecido no parque. Então aprendi uma coisa muito interessante. Que naquela classe havia três garotos que eram muito populares, e que todos queriam tê-los como amigos. E este menino com quem eu estava falando era um dos que não havia conseguido penetrar no grupo dos três, mas que estava quase chegando lá. E que o menino com o qual ele estava brigando no parque, era um dos que estavam ainda muito longe dos três. Então neste dia ele estava tentando ser aceito pelo grupo dos três. E o garoto com quem eu estava conversando ficou muito bravo, pois ele se sentiu desafiado pelo outro que estava muito mais distante do grupo, por isso iniciaram a briga.

Comecei, então, a conversar com ele sobre o seu comportamento e eu disse a ele que ele não estava sendo bondoso para com o outro garoto. Você sabe que precisa ser bondoso com o seu colega. Então, depois de lhe apresentar a causa real do problema, lhe indaguei sobre qual era a atitude do coração que o levava a tratar o outro daquela forma. Tendo me respondido de maneira tríplice. Que era o orgulho, egoísmo e sem amor. Ao que lhe apresentei a Cristo e o poder do evangelho. Que Jesus veio ao mundo para mudar pessoas como você e eu de dentro para fora., e Jesus pode mudar você de maneira que não seja egoísta e tenha amor pelos outros. Depois falei a ele sobre estas coisas já mencionadas, orei com ele e o mandei volta para a classe.

Eu sabia qual era o problema do outro menino. Era alguém que se encontrava muito ferido por estar sendo excluído do grupo. Falei a ele que conhecia esta sentimento de ser excluído pelos outros; que é uma coisa muito dolorosa ser uma pessoa rejeitada pelos outros colegas; é muito doloroso ser considerado como alguém que não é atrativo. Comecei a falar-lhe sobre Alguém que sabia muito bem o que é não ser atrativo aos outros. Lembra-se de Is. 53? "Ele foi desprezado e rejeitado pelos homens; não havia nEle formosura para que o desejássemos". E ao falar sobre esta pessoa, Jesus, as lágrimas começaram a rolar dos olhos do menino. Depois de orar com ele, mandei-o de volta a classe.

Mais tarde a professora deles me telefonou dizendo que não sabia o que eu tinha feito com os garotos, mas que tinha visto o primeiro garoto ser bondoso para com o segundo por todo o restante do dia.

Eu poderia ter falado com estes garotos dizendo que na escola era proibido brigas e que se eles brigassem outra vez seriam mandados de volta para as suas casas. Ou fazê-los escrever cem vezes a frase ‘não vou mais brigar na escola’. Se mais uma vez eu os encontrar brigando , vocês vão ver uma coisa.... O que não os mudaria em nada, pois o problema deles era mais profundo do que simplesmente uma briga. O problema era que eles tinham pecado no coração e que precisavam da graça de Cristo.

A outra história aconteceu num domingo pela manhã, após a pregação. Um jovem recém-convertido veio falar comigo muito perturbado e ele me disse que havia visto um garoto roubando dinheiro de dentro do gasofilácio. Então lhe mandei falar com o pai do garoto sobre o que ele tinha visto, e em poucos minutos o pai e o garoto vieram ter comigo. O pai do garoto me disse que o seu filho havia roubado dois dólares da coleta, e mandou então que ele me desse o dinheiro. E o garoto me deu os dois dólares.

Comecei a falar para aquele garoto sobre a graça maravilhosa de Deus. Disse-lhe: ‘Deus é tão bom para você! Pois Ele demonstrou graça não permitindo que você obtivesse sucesso no seu intento. Porque se você tivesse conseguido fazer sem que ninguém o percebesse, isso lhe causaria um grande mal ao coração. Mas o problema está no seu coração, Há algo dentro dele que faz você desejar tanto aquele dinheiro que o leva a roubá-lo. Mas eu tenho uma boa notícia para você: ‘o Senhor Jesus é poderoso para o salvar, se você confiar em Cristo, Ele vai mudar o seu coração. Mas se não tiver o seu coração mudado por Cristo, você irá continuar roubando por toda a sua vida. Jesus está tão cheio de graça e de misericórdia, que Ele não deixou você ter êxito no seu plano, e isto lhe deu a oportunidade de ouvir isso que estou lhe falando. Então lhe perguntei: Jesus não é mesmo maravilhoso? e naquele momento ele parou, enfiou a mão no bolso e retirou uma nota de vinte dólares, e me entregou.

Ele estava pronto a me devolver os dois e guardar os vinte. Iria fingir que estava muito sentido com o que havia feito. Diria que estava muito triste com aquilo, e me daria os dois dólares, mas ficaria com os vinte. O pior de tudo é que ele continuaria fazendo a mesma coisa, pois obtivera bom êxito. Quando eu comecei a falar-lhe sobre a graça de Deus, então o seu coração de desmanchou diante de nós. E quando falei sobre a misericórdia de Deus, ele não podia mais continuar escondendo os vinte dólares.

Isso é o que precisamos fazer com as nossas crianças. Fazê-las entender que o problema delas não é apenas de comportamento, mas é o que está por detrás do comportamento. O problema são as atitudes do coração que Deus condena. Estas são as más notícias. E as boas notícias é que Jesus veio mudar o coração e através do arrependimento e da fé em Cristo, nós podemos ter um novo coração. Deus faz transplante de coração, Ele tira o coração de pedra e coloca o coração de carne. Nos dá do Seu Espírito, que faz-nos andar nos seus caminhos. Precisamos colocar sempre e de forma contínua estas informações diante de nossas crianças.

Você pode ver que se continuar sempre mudando o comportamento, não chegará nunca nisso? É preciso chegar no coração para que se possa chegar na cruz.

Conhecendo Primeiramente o Meu Coração

Podemos dizer que estas coisas só serão perfeitamente compreendidas quando experimentados e não apenas faladas. Como que as suas crianças vão aprender estas coisas? Se nós, como pais, temos corações duros, elas nunca irão aprender estas coisas. Precisamos primeiramente compreender o que está por trás do nosso comportamento entendendo o nosso próprio coração. Somente depois disso é que nós poderemos ministrar o coração de nossas crianças. Nos posicionando acima delas, como autoridades, por estar aplicando primeiramente a nós mesmos, mas também ao lado delas como quem entende e sofre também esta mesma luta.

Quando eu comecei a ensinar as minhas crianças sobre o egoísmo, eu comecei a entender um pouco melhor, como estas coisas acontecem no coração humano, pois vi no meu próprio coração o desejo de ser o primeiro em tudo e então pude me colocar lado a lado com elas. E pude então dizer para elas que há esperança para alguém nós, porque o Senhor Jesus veio para mudar os nossos corações. Ele veio para nos fazer novo de dentro para fora.

Que Deus nos dê graça para podermos abordar a questão real com as nossas crianças.

Eu creio que a maioria destas coisas são novas para você. Quero então desafiá-lo a pensar sobre estas coisas. Que você comece consigo avaliando as atitudes do seu próprio coração. Então leve a sua criança junto com você para o caminho que conduz à cruz de Cristo.

Oração Final

Ó Deus! queremos Te pedir que tomes estas coisas e as tornes clara para nós. Que Tu nos dê entendimento sobre as nossas crianças. Ajuda-nos a nunca manipulá-las. Dá-nos uma preocupação, por elas, que vá além da superfície do comportamento. Ajuda-nos a leva-las a ver a necessidade do coração delas, e a sermos capazes de lhes mostrar a beleza de Cristo, para que possamos lhes apresentar este Salvador que é poderoso para nos salvar, e que pode mudar-nos a partir do nosso interior, que trabalha através do Seu Espírito no nosso homem interior. Ajuda-nos, Senhor, a pastorear as nossas crianças desta formar, em nome de Jesus. Amém!


III. OBEDIÊNCIA: UMA BÊNÇÃO PARA A CRIANÇA.

3ª Palestra proferida pelo Dr. Tedd Tripp, no X Encontro da Editora Fiel


Gn. 18:19. "Porque Eu o escolhi para que ordene a seus filhos e a sua casa depois dele, a fim de que guardem o caminho do Senhor, e pratiquem a justiça e o juízo; para que o Senhor faça vir sobre Abraão o que tem falado a seu respeito."

Nós vimos anteriormente, que o problema das nossas crianças não está limitado ao comportamento, mas está diretamente ligado ao coração pecador. Que não basta mudar o comportamento, e sim o próprio coração. Que precisamos fazer com que as nossas crianças vejam que o problema real está no seu coração. Assim poderemos educar corretamente as nossas crianças, livrando-nos da tendência errada de corrigir meramente o comportamento e não desprezando a mudança de coração.

Conhecendo as Atitudes do Coração
Agora vamos ver mais detalhadamente as possibilidades das atitudes do coração, como por exemplo a motivação para vingança que pode estar infiltrada no coração da criança. O qual pode ser expresso na atitude de bater em alguém, que é apenas uma exteriorização da atitude vingativa do coração. Sendo que o contrário desta atitude seria o confiar a Deus esta vingança, o que gostaríamos de ver nelas.
Outra atitude que pode estar no seu coração é o temor do homem, o que seria o oposto do temor a Deus. Ou ainda pelo orgulho, que é o oposto da humildade. O amor próprio em oposição ao amar ao próximo (Fl.2). A motivação pela auto-preservação, ao invés de dar a sua vida por outro (Mc.19). Talvez esteja motivado pelo temor ao invés do amor perfeito que lança fora o medo. A cobiça em oposição a generosidade. A inveja ao invés do desejo do bem para os outros. O ódio ao invés do amor.

Veja que aí nós encontramos uma grande variedade de atitudes do coração. E em cada uma delas não nos cabe impor as nossas crianças a atitude correta apenas. Mas em aconselhá-las e levá-las a entender estas coisas. Eu quero ajudá-las a entender o que vai dentro dos seus corações.

Isto que foi apresentado, não esgota todas as atitudes do coração, mas serve apenas como exemplos para você poder entender corretamente o que estou falando.

No próximo capítulo, nós abordaremos sobre a punição e castigos físicos. Mas mesmo quando se estiver usando a disciplina física, deve-se ter em mente que o problema é a atitude do coração. Pode ter momentos em que não se pode esclarecer isso a criança, mas eu, na minha mente, tenho de ter esta consciência. Vamos sempre lembrar que a "boca fala do que está cheio o coração".

Conhecendo o Sentimento do Coração

Como sugestão eu gostaria de abordar agora sobre a necessidade de se perguntar sempre o ‘por quê’ para as nossas crianças. Esta pergunta é sempre terrível para elas. Quando se pergunta a elas: ‘por que você fez
isto?’ mas elas podem nos responder de forma bem elaborada. Então quando quisermos entender a situação devemos perguntar o que elas estavam sentindo quando fizeram aquilo, ou como você se sente quando vê alguém agindo assim? ou perguntar-lhes sobre aquelas coisas que as ferem, ou sobre os desapontamentos. Nós precisamos aprender a fazer perguntas que as sondem e que faça com que elas abram o coração. Em oposição a isso é comum nós vermos os pais dizerem para as suas crianças que elas não devem se sentir feridas ou magoadas, mas agindo assim, é como se estivessem dizendo que não querem ouvir sobre os seus sentimentos. Esta atitude não vai fazer com que elas deixem de sentir-se mal por algo que sofreram, mas serão desincentivadas a nos falar sobre estes assuntos. É assim que nós queremos que elas ajam para conosco? Você quer que elas cheguem a conclusão de que não está interessado em falar sobre o que está lhes provocando sofrimento? Não seria melhor ouvi-las e ajudá-las a entender o que está acontecendo e a responder de forma bíblica sobre todas estas questões?

Quando a minha filha estava no colegial, aconteceu que ela tinha um professor que não gostava dela. E isto era verdade somente pelo fato de ela ser irmã de um outro aluno que ele gostava muito, e ela não era muito amiga do irmão. E ela passou quatro anos estudando com este professor que lhe perseguiu durante este tempo todo. O que você acha se nós lhes tivéssemos dito que não deveria se sentir assim para com o professor? que ela não deveria falar sobre este assunto em casa? provavelmente nós encerraríamos as reclamações dela, mas não resolveríamos o problema para ela. Nós teríamos apenas nos demovido da posição de pais que poderiam ajudá-la. Ao invés disso, nós buscamos e tivemos muitas oportunidades para falar com ela sobre aquele problema. Olhamos muitas passagens bíblicas que nos ensinam como podemos responder quando somos tratados com injustiça.

Há passagens como 1Pe.2. A segunda parte deste capítulo é sobre como responder a injustiça, onde estabelece uma base muito mais segura para como abordar este tipo de problema. Portanto não tenha medo de validar aquilo que causa sofrimento as suas crianças. Deixe que elas percebam que você entende o problema, para que você possa manter a posição da onde possa dar discernimento bíblico sobre o problema. E para fazer isso é necessário que estejamos preparados para conversar com as nossas crianças. Com as crianças pequenas nós vamos ter de falar sobre isso uma vez, mas com as maiores, elas vão precisar de tempo para pensar sobre isto. Então nossa forma de abordagem deve ser diferente, como: "talvez o que esteja acontecendo com você seja isso..." E depois voltar novamente e falar mais um pouco. Temos de tomar cuidado para não fecharmos a porta da conversa com a nossa resposta brusca ou irada.

Tg.1:19 nos diz que não será através da nossa ira que nossos filhos obterão retidão diante de Deus. Quando nós abordamos ou respondemos com ira eles não falarão conosco, apenas ouvirão, pois eles sabem que quando se está irado não há resposta certa para todas as questões envolvidas no problema. E que não poderão fazer nada para retirar a nossa ira. Seja então pronto para ouvir, tardio para falar e tardio para se irar, porque a ira do homem não causa a vida reta que Deus deseja. As nossas crianças não vão corresponder acertadamente, simplesmente porque nos iramos.

Empatia: Abertura para o Diálogo

Também é necessário que façamos no nosso lar um ambiente de aceitação para as nossas crianças. Onde não há nenhum assunto proibido que não possa ser conversado. Precisamos dizer algo como: "Não há nada que você venha a me dizer que eu não vá ouvir de forma séria. Talvez eu não concorde com você, mas eu vou ouvi-lo, e eu vou falar com você seriamente sobre as suas idéias e seus problemas". Então, precisamos ajudar nossas crianças a caminharem do comportamento para a atitude do coração.

Para podermos fazer assim, teremos uma grande ajuda se nós mesmos entendermos como o pecado age em nós. Se soubermos como o pecado age conosco teremos discernimento para ajudar as nossas crianças nessas mesmas questões. As Escrituras nos dizem que os mesmos problemas com o pecado enfrentam todos os homens, inclusive as crianças. Use então este entendimento para trabalhar e atrair as suas crianças, pois assim fazendo, estaremos comunicado-lhes que nós as entendemos e que estamos juntos com elas, e podemos mostra-lhes então, a solução destes problemas em Cristo. É importante para elas perceberem que nós, os pais, somo iguais a elas. E que nós também necessitamos buscar graça em Cristo para os nossos problemas com o pecado, assim como elas.

O Círculo da Bênção

Ef. 6:1-3 "Vós filhos sedes obedientes a vossos pais, no Senhor, porque isto é justo. Honra a teu pai e a tua mãe que é o primeiro mandamento com promessa, para que te vá bem e sejas de longa vida sobre a terra". Quando meus pais se converteram, eu era ainda muito jovem e eles começaram desde cedo a nos ensinar a memorizar versículos. Um dos primeiros que nós aprendemos foi exatamente este. E certa noite, meu pai tinha um amigo seu em casa para o jantar e quando nós fazíamos qualquer tipo de desobediência, ele simplesmente nos dizia: Ef.6:1, e nós então o obedecíamos. Então o seu amigo lhe perguntou: o que é Ef.6:1? eu estou precisando disso em minha casa, pois vejo que aqui isso funciona de forma maravilhosa. Este é um bom trecho das escrituras para ensinar as nossas crianças.

Agora, o que Deus tem feito em Ef.6:1 é o seguinte diagrama:

DESOBEDECER


Insegurança

Deus tem neste diagrama desenhado um circulo dentro do qual a criança deve obedecer. Os limites deste círculo é que a criança tem de honrar e obedecer seu pai e sua mãe. E Deus diz que a criança tem de ficar dentro dos limites deste círculo e ele coloca junto duas promessas: Vida longa e tudo irá bem. Então, este círculo de bênção, formado por Deus, coloca a criança debaixo da autoridade dos pais, para poder desfrutar de proteção. E esta obediência é extensiva a Deus, pois quando elas obedecem aos pais estão sendo obedientes a Deus. Por isso elas devem obedecer aos pais no Senhor.

As crianças devem estar familiarizadas com o conceito de que elas foram criadas para o Senhor. E o Senhor tem prometido grandes bênçãos se elas ficarem dentro deste círculo.

O Que o Texto nos Ensina?

Vamos definir melhor as palavras "Honra" e "Obediência".

Honrar os pais significa estimá-los e respeitá-los por causa da posição de autoridade deles. E elas nos honrarão como resultado de duas coisas. Mas antes de adentrarmos nestes conceitos, temos de ver a necessidade de incutir nelas a importância de se honrar a quem merece honra, pois em nossos dias não se atribui honra a ninguém, não se respeita ninguém. Elas devem ser orientadas a falar de maneira correta com as pessoas que merecem honra. Nunca deverão falar, aos pais, de forma imperativa. Devem aprender a expressar seus pensamentos de uma forma que demonstre respeito para com seus pais. Podemos dizer-lhes algo assim: "Desculpe querido(a), mas Deus me fez seu pai e você deve me tratar com honra. Vamos ver se você consegue encontrar uma forma respeitosa de expressar o mesmo pensamento." ou "querido(a), eu não sou um de seus amigos, talvez você possa falar assim com ele, mas eu sou seu pai e você me deve respeito no falar", ou ainda "Querido, você não pode dar ordens ao seu pai, você pode pedir alguma coisa, mas não dar ordens, porque Deus me fez o seu pai e você precisa me tratar com honra, e Deus diz que se você fizer assim, Ele dará a você vida longa e tudo te irá bem". Este tipo de ação nossa deve ser estendida a qualquer forma ou expressão de desrespeito ou desonra, como gestos, caretas, olhares, palavras ou atitudes.

Este treinamento deve ter início o mais cedo possível, não espere a adolescência, pois você terá de enfrentar o comportamento de desonra delas para com você, e poderá não ter mais solução. Adolescentes que sabem respeitar, aprenderam isso com idade entre 1 e 5 anos, após isso torna-se muito mais difícil o aprendizado da criança nesta área de comportamento.

Também é necessário que tenhamos em nossas mentes que é necessário, de nossa parte, respeito para com elas. Quando errarmos, devemos pedir-lhes desculpas, pois está envolvido aqui a regra do que se planta é o que se colhe. E isto é verdadeiro no processo de educar as crianças, como também em outras áreas da vida.

Vamos, então, definir Obediência.

Esta palavra não é muito popular em nossos dias e na verdade é popular hoje a idéia de se ser positivo, afirmativo, e de reagir as coisas que nos são apresentadas. Sendo que, obediência é submissão a alguém em autoridade, ou seja, obedecer ao que lhe foi mandado, e fazer quando lhe foi mandado. Eu tenho em minha casa um cartaz com a seguinte expressão: "OBEDECER É OBEDECER SEM DESAFIAR, SEM DESCULPAS E SEM ATRASOS". E os meus filhos fizeram para si este mesmo cartaz para utilizar em suas casas. E isto demonstra a importância que estas coisas tiveram em suas vidas, de como foram benéficas para eles e as querem também estendê-las aos seus filhos. Como pais é preciso termos as nossas crianças nos obedecendo e nos honrando, pois é isto que Deus disse que elas devem fazer.

Quem é Beneficiado com a Obediência e a Honra?

Agora vamos analisar a seguinte questão: Quem é que vai se beneficiar do ato de uma criança honrar e obedecer seus pais? É claro que a criança será a beneficiada, pois é isto que o texto de Ef..6:1 nos diz. Portanto aprender a obedecer é para o benefício da própria criança. Não é simplesmente para o nosso agrado como autoridades. Mas isto é bom para elas e Deus assim o manda fazer, em benefício delas.

Precisamos treiná-las a obedecer de pronto, não após ameaças ou quando elas quiserem. Também, conseguir que nossas crianças façam aquilo que queremos que façam não significa exatamente obediência, pois poderá ser através de uma simples negociação - faça isso que eu lhe dou isso..., mas nós precisamos faze-las sentir prazer em nos obedecer, porque isso será bom para elas. E precisamos ser constantes em nosso treinamento, e prontos a enfrentar a cultura de nossa época, que perdeu o conceito de autoridade. Precisamos ser consistentes, e nossas regras precisam ser as mesmas todos os dias, assim como as expectativas também.

Se o círculo da obediência e da honra é o lugar onde a criança poderá desfrutar de segurança e bênção, por implicação quando ela se afasta deste local ela está em local de perigo, pois ao abandonar o círculo, terá perdido a promessa de que tudo lhe irá bem e que serão longos os seus dias. Portanto a desobediência é a causa do afastamento da promessa de Deus e o caminho da correção e da disciplina por parte dos pais, é o caminho de volta ao local da bênção para nossos filhos.

Quem é beneficiado com a disciplina e a correção? claro que é a criança. Se moramos em uma rua movimentada e nossa criança vai para o meio da rua, não vamos ficar parados observando para ver o que acontece a ela, mas nós vamos logo tirá-la de onde está e a colocamos de volta num local seguro. Isto é o que a disciplina e a correção faz com a criança. Disciplina e correção é uma missão de resgate. É tirar a criança de um lugar de perigo e colocá-la em um lugar seguro. Então, o benefício é todo para a criança. Quando nós somos os beneficiados com o processo, então estamos invertendo todo o processo, e estamos passando para elas o conceito que diz: nenhuma criança minha vai me desobedecer. Nós as estamos corrigindo porque não queremos que elas sejam inconvenientes a nós.

Nós temos neste texto uma mandato para agir. Mas é para o benefício da criança, para traze-la de volta ao lugar onde tudo lhe irá bem e terá vida longa - Bênção de Deus.

Senhor dá-nos sabedoria, pois reconhecemos que esta tarefa é muito grande e é demais para nós. Lembra-nos que aquilo que Tu nos ordenas, também nos capacitas. Que Tu nos deste o mandamento para treinar nossas criança. Dá-nos, também a força e a habilidade para cumpri-lo. Ajuda-nos a sermos resolutos e fortes para que tenhamos coragem para fazer aquilo que Tu nos mandas. E nós Te pedimos isto para que Cristo seja glorificado na Tua igreja, no nome de quem oramos. Amém. 

Fonte: Monergismo
Autor: Tedd Tripp